Certa vez, tive a oportunidade de visitar o Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, e aprender um pouco mais sobre como é produzido o vinho da região. Algo que, logo de cara me impressionou muito, foi descobrir que para aperfeiçoar a qualidade de nosso vinho, uma das providências tomadas pelas vinículas locais foi diminuir a produção de uva por hectare. Antes, produzia-se de 20 a 25 mil quilos por hectare e, com o objetivo de alcançar um vinho de maior qualidade, reduziu-se a produção para a faixa de 10 a 13 mil quilos de uva por hectare. A iniciativa funcionou: o vinho ficou melhor e a região entrou para o mapa dos enólogos de todo o mundo.
O que justifica a redução do volume da plantação é a fartura de nutrientes. Quanto menos uvas, mais nutrientes chegam à elas e, por conseguinte, mais saborosas, fortes e doces ficam. Depois de muitos e muitos concursos, com várias reprovações e, depois, vários primeiros lugares, enquanto caminhava por aqueles campos, comecei a pensar em como a história dos concurseiros se mistura à história daquelas uvas. Às vezes é preciso dar alguns passos para trás, diminuir um pouco, otimizar, para obter resultados positivos.
Ficou claro para mim que a administração do tempo do concurseiro é como fazer a uva e o vinho ficarem melhores. Se você quiser uma boa qualidade de estudo, e sucesso na produção do vinho, quer dizer, na sua produção nas provas, vai precisar fazer uns cortes. Ao cortar as atividades supérfluas (os cachos extras…) e ao organizar bem as atividades indispensáveis, você estará direcionando os “nutrientes” de que seu estudo precisa para dar certo. Aparentemente, você estará perdendo produção, fazendo menos, mas será como o vinhedo que corta sua produção: seus resultados serão melhores!
Ainda nessa viagem, outras curiosidades relevantes chamaram minha atenção. Ainda em se tratando de vinhos, a dose recomendada pela Organização Mundial da Saúde – OMS para que o consumo de vinho faça bem ao corpo é de aproximadamente 300mL por dia. Nessa dose, ele ajuda o fígado, a circulação e o coração. Por outro lado, o consumo excessivo é causa de problemas nessas mesmas áreas além de acidentes de trânsito e de uma série de tragédias, como problemas familiares, separações e divórcios, alcoolismo. Foi um testemunho do ditado que afirma que a única diferença entre o veneno e o remédio é a dose.
A administração do tempo, seja nos concursos, carreira ou vida pessoal, demanda o mesmo cuidado. É preciso esforço para alcançar sua aprovação, o vencimento certo, o status, a aposentadoria, a chance de fazer diferença no país. Mas este esforço tem que respeitar limites para que o remédio não envenene sua qualidade de vida. Não adianta estudar tanto que você não aguente o longo e trabalhoso processo de preparação.
Há atividades que não podem ser esquecidas: sono, atividade física, lazer e o tempo para aproveitar a família. Tentar eliminar estas atividades é contraproducente. Nunca pense que a solução é só estudar. O candidato mais produtivo não é o que estuda mais, mas sim o que estuda melhor. Com um pouco de esforço, você poderá organizar sua vida de modo a estudar o máximo possível, mas mantendo um mínimo de sanidade e equilíbrio. Um candidato que faz isso rende mais no estudo e não “surta” nem desiste no meio do caminho.
As dificuldades que não o vencerem vão transformá-lo em alguém mais forte, mas experiente, mais capacitado, melhor… como as uvas. Quando você chegar ao seu grau de maturidade para passar nas provas, verá que parte do candidato mais sério, organizado e preparado em que se transformou é fruto das dificuldades que exigiram sua melhora.
Organize bem seu tempo, de modo que haja “nutrientes” para alimentar seu projeto de carreira; saiba dosar seu tempo para que as coisas funcionem como remédio, e não como veneno, e, lembre-se de que as dificuldades apenas estão tonando-o mais forte e especial.
William Douglas